Véspera de eleição é um tempo estranho, cheio de nuances e tensões. Ainda mais aqui no Brasil, em que a legislação parece agir contra o interesse maior da sociedade: debater livremente as alternativas de poder e, assim, construir plataformas sólidas de opções de políticas públicas.
No Piauí, fica sempre o registro de que não é possível vislumbrar grandes debates sobre nossa sociedade. Restringe-se, voluntariamente, o debate tão somente à montagem das chapas e, se alguma está mais perto de chegar lá, é preciso criar marolas e embates fictícios, para que se coloquem a todos os concorrentes sempre no mesmo patamar medíocre.
Neste contexto, temas como: carga tributária; papel do Estado; formas de avançar na qualidade da educação pública; construção de uma saúde pública inclusiva e abrangente; infraestrutura de estradas, energia e de transportes parecem temas de outro mundo, que não tem qualquer condição de afetar o dia a dia das pessoas.
A grande guerra de comunicação que se trava entre as candidaturas parece envolta em pseudo questões, reunidas de maneira a conformar um único grande objetivo: construir máquinas eleitorais eficientes, capazes de mobilizar favoravelmente a opinião dos eleitores.
Os sinais de que a sociedade está perdendo a batalha para as máquinas políticas vêm de todos os lados. Nas eleições presidenciais, a polarização das intenções entre as candidaturas de José Serra (PSDB) e Dilma Roussef (PT) dá espaço a um infindável número de análises sobre se e quando a candidata petista ultrapassará o tucano. Discute-se igualmente, como e se este último poderá reagir, suas agendas públicas parecem desconhecidas e menos importantes. Porque será mesmo que são pré-candidatos? Quais os temas mais importantes de seus partidos e de suas plataformas?
Em nosso Estado, cabe refletir sobre tantos temas e tantas dificuldades que é difícil listar uma ordem clara de prioridades. Particularmente, eu teria duas: o papel do Governo Federal na superação de estrangulamentos claros de nossa economia; e, depois, a capacidade institucional da máquina pública de agir em favor da maioria dos cidadãos. Até aqui, nossa história não permite vislumbrar um ciclo virtuoso de crescimento econômicos, desenvolvimento institucional e melhoria sustentável da qualidade de vida da população.
Há, por certo, iniciativas importantes nesta direção, mas, sempre prevalece a compreensão patrimonialista do papel da máquina pública, ou seja, a política trabalha contra a cidadania, porque dela tira recursos e veta alternativas de construção de resultados práticos e universais para a maioria da população.
Assim, o debate público que se realiza em território piauiense, desde 2009, é pura e simplesmente, eleitoral. Sem claras demandas da sociedade, corremos o risco de assistir a um embate entre grupos que compreendem o poder como máquina e não como serviço. E, assim, nos bastidores se discutirá quanto custa um voto, jamais para que ele serve. Também se dirá que lideranças estão “com fulano”, sendo que disto resulte algo aos que realmente votam e, portanto, constroem aquela liderança.
Não consigo deixar de sentir que somos “dinossauros”: grandes, pesados, arcaicos e incapazes de nos proteger diante de catástrofes que possam nos extinguir. Mas, alimento a esperança de que os movimentos mais subterrâneos da sociedade piauiense são capazes de revolver a terra e dela extrair o alimento da “virada”, que significa a chegada de um outro tempo, que signifique a paixão de fazer e de construir coisas novas, dignas, para quem precisa.
domingo, 6 de junho de 2010
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